Mostra faz parte da XIII Semana de Direitos Humanos e das Juventudes e reúne fotografias de mulheres trans em privação de liberdade na primeira penitenciária do país destinada a receber pessoas LGBT, em São Joaquim de Bicas
Dos dias 5 de dezembro de 2022 (segunda-feira) até 10 de dezembro de 2023 (sábado), a área externa do Parque Municipal Américo Renné Gianetti recebe as fotografias do projeto “Gente de Bicas”, realizado pelo fotojornalista mineiro Marcelo Horta. Celebrando a XII Semana de Direitos Humanos e o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (10 de dezembro), a mostra reúne 30 imagens realizadas na Penitenciária Professor Jason Soares Albergaria, na cidade de São Joaquim de Bicas. As imagens retratam mulheres trans em privação de liberdade na primeira penitenciária do a receber pessoas LGBTQIAP+. Após o período de exposição no Parque Municipal, a mostra segue para a área externa do Museu Mineiro e Arquivo Público Mineiro, permanecendo de 13 de dezembro de 2022 (terça-feira) até 2 de janeiro de 2023 (segunda-feira).
O objetivo da mostra é sensibilizar a população mineira, assim como as instituições públicas e privadas, promovendo o debate sobre o respeito aos direitos humanos. A proposta é uma iniciativa da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), por meio da Subsecretaria de Direitos Humanos, em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), a Fundação Clóvis Salgado (FCS) e a sociedade civil.
Ministério do Turismo, Governo de Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado, apresentam Gente de Bicas, que tem correalização da APPA, Arte e Cultura, patrocínio master da Cemig, ArcellorMittal, AngloGod Ashanti e Usiminas, por meio das leis estadual e federal de incentivo à cultura.
XIII Semana de Direitos Humanos – A mostra “Gente de Bicas” integra a XIII Semana de Direitos Humanos, que tem o objetivo de sensibilizar a comunidade a respeito da importância dos direitos humanos e fomentar a reflexão e o debate em torno dos direitos de todos os grupos sistemática e historicamente vulnerabilizados. Com o tema “Direitos Humanos e Juventudes”, a Semana de Direitos Humanos convida, neste ano, a Semana Estadual das Juventudes, visando compartilhar visões e experiências em torno de temas importantes tais como participação social, saúde sexual e mental, empregabilidade, empreendedorismo, acesso à cultura, acesso a políticas específicas, articulação em rede de políticas públicas, dentre outros.
Para Elizabeth Jucá, Secretária de Estado, as imagens realizadas por Marcelo Horta “são um retrato da diversidade da nossa sociedade, dos mineiros. Temos nesta exposição um olhar sensível e atento, um convite para pensarmos sobre respeito, sobre inclusão, sobre a riqueza de sermos diversos para a construção de uma sociedade criativa, inteira, justa, cada vez menos desigual e com oportunidade para todos”.
Para o Presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis, a parceria da FCS com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social é mais uma forma de democratizar o acesso à cultura. “Com a mostra Gente de Bicas, expomos diretamente para a cidade um trabalho delicado e fortemente alinhado à pauta dos direitos humanos. A arte é papel fundamental na reverberação dos anseios sociais, e é nosso papel realizar essa difusão. Gente de Bicas é mais uma forma de mostrar ao povo mineiro a beleza e a força da nossa população”, destaca.
Gente de Bicas: olhar com carinho para a vida – O trabalho “Gente de Bicas” faz parte de uma sequência de projetos do fotógrafo e jornalista Marcelo Horta, que desenvolve seu olhar para o fotojornalismo em consonância com um olhar de retratista. Em 2014, Horta desenvolveu “Gente da Floresta”, exercendo seu olhar sob uma tribo indígena residente às margens do Rio Negro. Em 2018 e 2019, a mostra “Gente dos Sertões” culminou em um compilado de imagens de moradores que residem aos arredores dos trajetos realizados pelos competidores da anual “Rally dos Sertões”.
Também em 2019, o fotógrafo realizou “Gente da Fronteira”, captando o momento em que venezuelanos atravessavam a fronteira do Roraima em busca de melhores condições de vida. Segundo o Horta, todos os trabalhos foram uma forma de enxergar aquelas pessoas. “Sou um retratista, meu olhar é particular para o ser humano, para a gente que compõe o nosso Brasil. Nossa brasilidade está em todos os perfis que contêm a nossa raça, somos compostos de um misto de influencias”, expressa. “Gente de Bicas” surgiu em meio a essa busca pelo olhar humano, dando continuidade à pesquisa do fotógrafo mineiro.
Em conversa com a Secretária de Estado, Elizabeth Jucá, surgiu a ideia de fotografar um espaço repleto de histórias: a penitenciária LGBT Professor Jason Soares Albergaria, em São Joaquim de Bicas, na região Central de Minas Gerais. Após um mês de acertos burocráticos, a sessão de fotos aconteceu. Segundo Horta, a penitenciária estava sofrendo com o aumento do índice de suicídio, o que fortaleceu um olhar artístico ainda mais voltado para o aumento da autoestima das mulheres trans em privação de liberdade. “Através da fotografia poderíamos mostrar um pouco dessa gente, que está passando por um momento difícil, mas que são seres humanos bonitos, com sua própria luz e energia, conta o fotógrafo que se diz surpreendido positivamente pelo encontro.
Durante dois dias de trabalho, Horta passou a conhecer melhor a rotina de cada fotografada. “No primeiro dia, trabalhamos a imagem do cotidiano, fotografando os momentos nas oficinas e nos cuidados com a horta e salas de aulas”, conta. “Já no segundo dia, realizamos a montagem de um estúdio, fazendo com que cada uma tivesse seu momento de modelo. Foi um trabalho de booking para cada uma”.
Para Horta, qualquer trabalho feito para dar dignidade, carinho e amor, e para valorizar e estimular os direitos humanos, é valido. “É da maior importância que pode existir: valorizar o ser humano. O impacto que a exposição irá causar em cada visitante é muito pessoal, mas ela fez de mim uma pessoa muito mais contemplativa, mais realizada diante da possibilidade de ter dividido aquele momento com aquelas pessoas. Fui só um fio condutor para que elas pudessem ser vistas, e isso é muito gratificante para a minha forma de olhar. De todos os trabalhos que já fiz, talvez esse tenha mexido mais com o meu emocional, por ter observado o olhar delas para vida”, celebra. “É fundamental que todos enxerguem que, lá dentro, temos pessoas como nós”.
Marcelo Horta – A carreira do fotógrafo foi construída a partir de referências múltiplas. Na vivência relacionada ao mundo das linguagens artísticas transitou pelo campo da linguagem musical como DJ; no gerenciamento de eventos culturais; pelo campo da modalidade cênica e iluminação. Como fotojornalista, trabalha com estilistas, artistas, cantores, bandas, dentre outros. Essa vivência tão plural trouxe ao fotógrafo a capacidade de filtrar, através de suas lentes, recortes carregados de beleza e poesia. O making off de “Gente de Bicas” foi realizado por Spaço Capital – Paulinho Coelho (cabelo e maquiagem), Harlissandro (maquiagem) e João Paulo (maquiagem).