Espetáculo tem direção musical de Ligia Amadio, regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, e direção cênica da atriz e dramaturga Rita Clemente; participam também da montagem o Coral Lírico de Minas Gerais e a Cia de Dança Palácio das Artes
“Matraga”, da obra de João Guimarães Rosa| Ópera em três atos, de Rufo Herrera
Datas e horários: 17/5 (sábado), às 19h, 18/5 (domingo), às 18h, e 19/5 (segunda-feira) e 20/5 (terça-feira), às 20h
Local: Grande Teatro Cemig Palácio das Artes
(Av. Afonso Pena, 1537, Centro, Belo Horizonte)
Ingressos: R$60,00 a inteira e R$30,00 a meia-entrada
Classificação Indicativa: 10 anos
Informações para o público: (31) 3236-7400
Baseada em “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, último conto de “Sagarana”, primeiro livro de Guimarães Rosa (1908-1967), a ópera “Matraga”é um “Faroeste Caboclo” e Guimarães Rosa, um “Dostoiévski do Sertão”. Vida e redenção, crime e castigo, o Bem e o Mal, a hora e a vez, morte e salvação de Augusto Matraga. Daí o renovado desafio da Fundação Clóvis Salgado de levar, ao cenário imaginário – o Grande Teatro Cemig Palácio das Artes –, este épico da literatura brasileira, moldado como ópera, a coleção de todas as artes.
Em três atos, “Matraga” tem libreto e música de Rufo Herrera. Participações dos corpos artísticos da Fundação Clóvis Salgado: Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), Coral Lírico de Minas Gerais (CLMG) e Cia de Dança Palácio das Artes (CDPA). Grande elenco de solistas e a narração do ator Gilson de Barros, conhecido pela intimidade com a obra de Guimarães Rosa. No ano de 2023, a produção teve uma pré-estreia emocionante na Gruta do Maquiné, em Cordisburgo – terra do escritor –, e logo depois foi sucesso de público e crítica em Belo Horizonte, reunindo mais de 5 mil espectadores ao longo de quatro récitas no Palácio das Artes.
Em 2025, a ópera será apresentada nos dias 17/5 (sábado), às 19h, 18/5 (domingo), às 18h, e 19/5 (segunda-feira) e 20/5 (terça-feira), às 20h, novamente no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. A direção musical e a regência ficam a cargo da titular da OSMG, Ligia Amadio. “Matraga”tem concepção e direção cênica da atriz e dramaturga Rita Clemente; assistência de direção de Ronaldo Zero; cenografia de Miriam Menezes; figurinos de Sayonara Lopes; iluminação de Gabriel Pederneiras; direção coreográfica de Alex Soares; preparação do Coral Lírico feita por Augusto Pimenta e André Brant; e direção-geral de Cláudia Malta.
A ópera “Matraga” é realizada pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado. As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm a Cemig como mantenedora, Patrocínio Master do Instituto Cultural Vale e Grupo FrediZak, Patrocínio Prime do Instituto Unimed-BH e da ArcelorMittal, Patrocínio da Vivo e correalização da APPA – Cultura & Patrimônio. O Palácio das Artes integra o Circuito Liberdade, que reúne 35 equipamentos com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. A ação é viabilizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Vale-Cultura. Governo Federal, Brasil: União e Reconstrução.
“A Hora e a Vez de Augusto Matraga” é o último e o mais emblemático conto de livro “Sagarana” (1946), onde o regional encontra o universal; onde as Minas Gerais, de Guimarães Rosa, encontram a Rússia de Dostoiévski.
Em Dostoiévski, a vida é o inferno, sempre depois de uma profunda reflexão filosófica da existência, da justiça, e da moral: “se as pessoas buscam o reino da justiça na Terra, o reino da razão, acabarão chegando à ruína, ao desumano, ao mundo opressor”. “No que diz respeito aos quatro principais romances de Dostoiévski – ‘Crime e castigo’ (1866), ‘O idiota’ (1869), ‘Os demônios’ (1872) e ‘Os irmãos Karamázov’ (1879) -, todos eles tratam da relação do ser humano com Deus”, destaca a professora de Literatura Russa da Universidade de São Paulo Elena Vássina.
Em uma carta ao tradutor de sua obra para o italiano, Edoardo Bizarri, em 1963, Guimarães Rosa confessa: “sou profundamente, essencialmente religioso. Daí todas as minhas, constantes, preocupações religiosas, metafísicas embeberem os meus livros. Os livros são como eu sou”.
Antes da pandemia da Covid-19, no projeto de remição de penas pela leitura, criado em 2012, pelo Ministério da Justiça, eram cinco livros os mais lidos do ano nos presídios federais. Nenhum deles, de autoajuda. O campeão era “Crime e Castigo”, de Dostoievski, seguido de “Incidente em Antares”, de Érico Veríssimo, “Sagarana”e“Grande Sertão: Veredas”, ambos de Guimarães Rosa e “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Pela portaria em vigor, a cada livro lido subtraem-se quatro dias da pena.
Durante a pandemia, “Crime e Castigo” perdeu o posto de líder absoluto de mais lidos entre presos mais violentos. Foi substituído pelo best-seller “A Cabana”, do canadense William P. Young, que trata do sofrimento de um homem que tem a filha de cinco anos brutalmente assassinada e, após o crime, começa um debate sobre a fé e a origem da dor que o acomete.
No conto de Guimarães Rosa, Augusto Matraga é um fazendeiro poderoso e violento, “duro, doido e sem detença, como um bicho grande do mato”, rude como as terras remotas de Minas. Por temperamento, desprezo e ganância, perde tudo; dinheiro, posses e mais. Traído pela mulher, Dionóra, ao tentar recuperá-la e vingar sua honra, Matraga é emboscado e espancado por seus inimigos, os capangas do Major Consilva. Atirado de um despenhadeiro num abismo, é dado como morto. Salvo pela bondade de um casal humilde, em busca do perdão para seus pecados e de um lugar no Céu, apega-se à religiosidade. Aparentemente resignado, Augusto conhece então o jagunço Joãozinho Bem-Bem, “o arranca-toco, o treme-terra, o come-brasa, o pega-à-unha, o fecha-treta, o tira-prosa, o parte-ferro, o rompe-racha, o rompe-e-arrasa”, que desperta seus instintos mais primitivos. Matraga oscila entre a crença, a esperança – que não consegue abandonar – e a violência de sua natureza.
Para o presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis, “’Matraga’ é um espetáculo ousado, contemporâneo, com características operísticas e sob inspiração de uma dramaturgia tipicamente mineira. Escolhemos o que em Minas é mais universal: a genialidade de João Guimarães Rosa”.
A abordagem de Rufo Herrera traz João Guimarães Rosa para dentro da obra que, como narrador, caminha pelo sertão. “Minha opção pelo conto ‘A Hora e a Vez de Augusto Matraga’ para uma obra cênico-musical, devo-a, à sua força poética e sua filosófica revelação do ser humano em profundidade. O homem lá, onde João Guimarães Rosa o foi buscar – O Sertão das Gerais – oscila permanentemente entre o bem e o mal. Ora se apruma, ora cai ao nível da fera, ora paira acima de Deus e do diabo”.
O sertão de João Guimarães Rosa, de Minas Gerais, não é o sertão de Jorge Amado, Glauber Rocha e da Bahia. Não é o Velho Oeste de Clint Eastwood e dos Estados Unidos. É a terra de coronéis, cangaceiros, sertanejos, justiceiros e pistoleiros, no dilema entre o livre-arbítrio e o determinismo com suas consequências, ainda mais violentas e injustas. Nhô Augusto se redime da violência não por arrependimento, mas pelo desespero da eternidade.
Para a diretora, Rita Clemente, “’Matraga’ é ópera em seu sentido mais arquetípico e menos corriqueiro. Temos aqui um modo muito especial de fazer uma ópera. O que oferecemos aqui não é uma nova maneira, é um diferente modo, onde teatralidade e musicalidade estão intimamente ligadas. ‘Matraga’ comemora a mineiridade”. Para tanto, sob o libreto e paralelo a ele, Clemente cria uma segunda dramaturgia que remete às viagens de Rosa pelo sertão. Nesta ópera tão especial, a própria cena instaura musicalidade, assim como a música de Rufo que se propõe a ser cênica.
Narrado em terceira pessoa, o conto enfatiza duas constantes no sertão: a violência e a crença. E uma inconstante, a redenção do crime, com castigo, penitência, perdão e destino, através do catolicismo popular: “reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa mais a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria… Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua”.
“E tudo foi bem assim, porque tinha de ser, já que assim foi”. “Matraga” é onde os fracos não têm vez e mesmo os fortes têm hora e vez.
FICHA TÉCNICA – “MATRAGA”, DA OBRA DE JOÃO GUIMARÃES ROSA
Direção Musical e Regência: Ligia Amadio
Concepção e Direção Cênica: Rita Clemente
Assistência de Direção: Ronaldo Zero
Cenografia: Miriam Menezes
Figurinos: Sayonara Lopes
Iluminação: Gabriel Pederneiras
Direção Coreográfica: Alex Soares
Preparação do Coral Lírico: Augusto Pimenta e André Brant
Direção-Geral: Cláudia Malta
Orquestra Sinfônica de Minas Gerais
Coral Lírico de Minas Gerais
Cia de Dança Palácio das Artes
ELENCO – “MATRAGA”, DA OBRA DE JOÃO GUIMARÃES ROSA
Leonardo Fernandes (Ator): Augusto Matraga
Gilson de Barros (Ator): Narrador
Edineia Oliveira (Mezzosoprano): Mãe Quitéria
Edna d’ Oliveira (Soprano): Dionóra
Geilson Santos (Tenor): Quim (recadeiro de Matraga) e Cantador
Flávio Leite (Tenor): Joãozinho Bem-Bem (Chefe dos Jagunços)
Leandro Abreu (Barítono): Ovídio (amante de Dionóra)
Guilherme Théo (Ator): Tião da Tereza (Boiadeiro)
Ivan Sodré (Bailarino): Major Consilva
Luciano Luppi (Ator): Padre e Ancião
Chico Lobo: Violeiro
Bailarinas Eliatrice Gischewski e Maíra Campos: Mimita
Bailarina Isadora Brandão: Sariema
ORQUESTRA SINFÔNICA DE MINAS GERAIS – Considerada uma das mais ativas do país, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais cumpre o papel de difusora da música erudita, diversificando sua atuação em óperas, balés, concertos e apresentações ao ar livre. Criada em 1976, foi declarada Patrimônio Histórico e Cultural do Estado de Minas Gerais. Participa da política de difusão da música sinfônica promovida pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado (FCS), a partir da realização dos projetos Concertos da Liberdade – Sinfônica ao Meio Dia e Sinfônica em Concerto –, Concertos no Parque, Concertos Comentados e Sinfônica Pop, além de integrar as temporadas de óperas realizadas pela FCS. Mantém permanente aprimoramento da sua performance executando repertório que abrange todos os períodos da música sinfônica, além de grandes sucessos da música popular. Ligia Amadio é a sua atual regente titular e diretora musical.
CORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS – Criado em 1979, o Coral Lírico de Minas Gerais foi declarado Patrimônio Histórico e Cultural do Estado de Minas Gerais. Interpreta repertório diversificado, incluindo motetos, óperas, oratórios e concertos sinfônico-corais. Participa da política de difusão do canto coral, por meio da Fundação Clóvis Salgado, a partir da realização das séries Concertos da Liberdade – Lírico ao Meio-dia e Lírico em Concerto –, Coral Lírico na Cidade e Noites Líricas, além de integrar as temporadas de óperas da FCS. O Coral Lírico de Minas Gerais teve como regentes Luiz Aguiar, Marcos Thadeu Miranda Gomes, Carlos Alberto Pinto Fonseca, Ângela Pinto Coelho, Eliane Fajioli, Silvio Viegas, Charles Roussin, Afrânio Lacerda, Márcio Miranda Pontes, Lincoln Andrade, Lara Tanaka e Hernán Sánchez.
CIA DE DANÇA PALÁCIO DAS ARTES – Reconhecida como uma das mais importantes companhias do Brasil, é uma das referências na história da dança em Minas Gerais. Foi o primeiro grupo a ser institucionalizado, durante o governo de Israel Pinheiro, em 1971, com a incorporação dos integrantes do Ballet de Minas Gerais e da Escola de Dança, ambos dirigidos por Carlos Leite – que profissionalizou e projetou a Companhia nacionalmente. A CDPA desenvolve hoje um repertório próprio de dança contemporânea e se integra aos outros corpos artísticos da Fundação – Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e Coral Lírico de Minas Gerais – em produções operísticas e espetáculos cênico-musicais realizados pela instituição ou em parceria com artistas brasileiros e internacionais. A Companhia tem na pesquisa investigativa transdisciplinar, na diversidade de seu elenco de bailarinos e na cocriação artística os pilares de sua produção. Seus espetáculos estimulam o pensamento crítico e reflexivo em torno das questões contemporâneas, caracterizando-se pelo diálogo entre a tradição e a inovação.
Texto: Fundação Clóvis Salgado