Espetáculo reúne o Coral Lírico de Minas Gerais, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e renomados solistas, em montagem que retorna ao Palácio das Artes após 13 anos
Grandes cenários, figurinos suntuosos, performances musicais virtuosísticas e uma história atemporal. O público que assistiu à estreia da ópera “Nabucco” no dia 17 de outubro (quinta-feira) se impressionou com uma produção de excelência. A obra, composta pelo italiano Giuseppe Verdi e apresentada pela primeira vez ainda em meados do século XIX, retornou ao Grande Teatro Cemig Palácio das Artes após mais de uma década desde a primeira montagem, em 2011.
“Nabucco” narra a história do cativeiro hebreu na Babilônia, sob o jugo do monarca assírio Nabucodonosor II. Rodrigo Esteves, Eiko Senda, Denise de Freitas, Sávio Sperandio, Giovanni Tristacci, Júlio César Mendonça, Fabíola Protzner e Cristiano Rocha compõem o grande elenco principal em uma história repleta de reviravoltas, tragédias e redenções. O auxiliar de biblioteca Márcio Silva conta que já veio em algumas óperas produzidas pela Fundação Clóvis Salgado, mas que “Nabucco” é especialmente emocionante e bem interpretada. “Achei extremamente impactante a parte em que o protagonista volta ao poder, é tudo muito autêntico, cheio de verdade”, elogia, referindo-se ao momento em que Nabucco retoma a coroa após o revés sofrido no final do segundo ato da ópera. “Sempre venho aqui, e pretendo voltar muitas vezes”, adianta.
Com direção musical e regência de Ligia Amadio, maestra titular e diretora musical da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), “Nabucco” conta ainda com a indispensável presença do Coral Lírico de Minas Gerais (CLMG). Com passagens de incrível força orquestral, tanto em ritmo mais acelerado quanto em andamentos mais singelos, a ópera de Verdi apresenta alguns dos maiores momentos do repertório erudito, com destaque para a ária “Salgo già del trono aurato” (“Subo já ao trono dourado”) – cantada pela filha ilegítima e vingativa de Nabucco à medida que ela aceita tomar o reino das mãos de seu pai – e para o coro “Va, pensiero” (“Vai, pensamento”), quando os hebreus relembram sua terra natal enquanto permanecem cativos em terra estrangeira. A jovem Júlia Hellen, estudante de Pedagogia, viu uma orquestra ao vivo pela primeira vez, e se disse maravilhada com a experiência. “É muito gratificante assistir a um relato tão poderoso e tão lindo de uma história bíblica célebre como esta”, resumiu.
Com concepção e direção cênica de André Heller-Lopes, a ambientação da ópera chamou a atenção dos espectadores. Além das estruturas de dezenas de metros e das cores expressionistas, refletindo as emoções dos personagens, o caráter atemporal também foi notado. Ao mesmo tempo em que alguns personagens e os cenários apontavam para uma recriação livre da sociedade assíria antiga, outros solistas, cantores e figurantes usavam vestidos e ternos que situavam as ações no século XIX, justamente a época em que “Nabucco” foi criada, metaforizando o domínio austríaco sobre os conterrâneos italianos de Verdi. Tanta exuberância visual e profundidade imagética tornaram a produção mais dinâmica, como ressalta o fisioterapeuta Wellington Gomes. “É a primeira vez que assisto a uma ópera, eu vim pela indicação de um amigo. A experiência foi incrível, eu achava que seria cansativo, mas foi tudo muito fluido, e nem vi o tempo passar, graças aos artistas envolvidos e a essa produção majestosa. O ato final me impressionou muito, com o arrependimento do personagem [principal] e a mensagem de redenção. Pretendo voltar, me senti em casa”, define.
“Nabucco” teve uma pré-estreia também emocionante na Basílica da Piedade – Ermida da Padroeira de Minas, localizada na Serra da Piedade, em Caeté, no dia 13 de outubro. A ópera estreou com ingressos esgotados para as quatro apresentações, reforçando o sucesso desta 96ª produção operística da Fundação Clóvis Salgado. “Nabucco” encerra sua segunda passagem pelo Palácio das Artes com um público total de cerca de 7 mil pessoas, todas surpreendidas com uma ópera de proporções bíblicas. A farmacêutica Rosângela Garcia ganhou os ingressos de um amigo, e diz que este foi “o melhor presente possível”. “Nunca tinha vindo em uma ópera, e tenho certeza que essa será a primeira de muitas”, assegura. Em 2025, outro retorno triunfante: “Matraga”, de Rufo Herrera, baseado na obra do imortal Guimarães Rosa, promete manter a tradição de sucesso e excelência das óperas encenadas no Palácio das Artes.
Texto: Fundação Clóvis Salgado