Iniciativa é realizada em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais, no âmbito do programa antirracista “Sobre Tons”; programação apresenta quase 40 filmes, sessões comentadas, exibições em película e de cópias restauradas, cursos e um catálogo exclusivo
Mostra “Intérprete do Brasil – Uma Homenagem a Grande Otelo”
Datas: 5 a 29 de junho de 2025
Horários: Variados
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes
(Avenida Afonso Pena, 1537, Centro – Belo Horizonte)
Classificações indicativas: Variadas
Entrada gratuita; 50% dos ingressos estarão disponíveis, de forma on-line, 1 hora antes de cada sessão, no site da Eventim; o restante dos ingressos será distribuído presencialmente pela bilheteria, meia hora antes da sessão, mediante a apresentação de documento com foto.
Uma trajetória que se entrelaça com a história do cinema brasileiro. Em mais de 100 filmes, o ator e também cantor, compositor e poeta Grande Otelo deixou uma marca permanente na cultura nacional. Pensando em exaltar esse legado, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) apresentam, ao longo do mês de junho de 2025, a mostra “Intérprete do Brasil – Uma Homenagem a Grande Otelo”. A iniciativa, realizada no âmbito do programa antirracista “Sobre Tons”, do MPMG, celebra o ano que marcaria os 110 anos de nascimento do artista. Na programação, que vai dos dias 5 a 29 de junho, o público do Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes, poderá assistir a quase 40 filmes a partir da curadoria feita pelo crítico, programador, pesquisador e diretor baiano Fabio Rodrigues Filho. A mostra conta ainda com sessões comentadas, exibições em película e de cópias restauradas em DCP, debates, cursos, um catálogo exclusivo e a presença de especialistas de relevância nacional. Como parte das atividades culturais em diálogo com os filmes, no dia de abertura o multiartista Maurício Tizumba apresentará uma performance, terminando com um cortejo até o Cine Humberto Mauro; já no encerramento da mostra, será a vez do Grupo de Choro do Cefart interpretar clássicos de Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Joaquim A. Callado, Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo e muitos outros artistas que atravessaram a trajetória musical de Grande Otelo. A direção artística da mostra é da produtora e curadora Layla Braz.
Ao oferecer acesso gratuito a uma programação diversa, crítica e cuidadosamente curada, a mostra faz ecoar a herança artística de Otelo como patrimônio vivo. Assim, ele é celebrado como intérprete vibrante de um Brasil múltiplo, contraditório e sempre em reinvenção. É o que pontua a coordenadora de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação do MPMG, a promotora de Justiça Nádia Estela Ferreira Mateus. “No ano em que celebramos os 110 anos de nascimento de Grande Otelo, o Ministério Público de Minas Gerais, ao lado da Fundação Clóvis Salgado, rende homenagem a uma das maiores referências da arte e da cultura negra no Brasil. Grande Otelo é um símbolo da luta e da resistência negra no campo artístico. Seu precioso legado, para além de ser preservado e difundido, também serve de alerta e reafirma a urgência de políticas reparatórias e de valorização da nossa história. Esta homenagem é parte de uma série orquestrada de ações que visam à difusão de uma cultura antidiscriminatória em favor da qual o MPMG tem trabalhado por meio do programa antirracista ‘Sobre Tons’. Em parceria com a Fundação Clóvis Salgado, estamos honrados por contribuir para que a memória e o valioso legado de Grande Otelo sigam inspirando novas gerações de artistas”, celebra.
Vitor Miranda, Gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado, afirma que, “ao falar sobre Grande Otelo, estamos falando sobre a história do cinema brasileiro. No entanto, celebrar os 110 anos de nascimento desse artista tem por objetivo algo maior que relembrar (e reafirmar) sua importância no cinema nacional; a busca, aqui, é por revisitar, com olhar crítico e sensível, através do cinema e de outras artes, a trajetória de uma figura que pode ser considerada um símbolo da cultura brasileira. Nesse sentido, a mostra ‘Intérprete do Brasil: Uma Homenagem a Grande Otelo’ reafirma o interesse e a dedicação do Cine Humberto Mauro e da Fundação Clóvis Salgado com a preservação da memória audiovisual e com a valorização de figuras históricas cuja complexidade artística muitas vezes foi marginalizada por leituras estereotipadas e reducionistas. Revisitar sua obra, hoje, é abrir espaço para o debate sobre representação, identidade e as múltiplas camadas do Brasil retratado nas telas”, aponta.
A mostra “Intérprete do Brasil: Uma Homenagem a Grande Otelo” é realizada pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais, Ministério Público de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado. As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm a Cemig como mantenedora, Patrocínio Master do Instituto Cultural Vale e Grupo FrediZak, Patrocínio Prime do Instituto Unimed-BH e da ArcelorMittal, Patrocínio da Vivo e correalização da APPA – Cultura & Patrimônio. O Palácio das Artes integra o Circuito Liberdade, que reúne 35 equipamentos com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. A ação é viabilizada pelo Programa Sobre Tons do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Vale-Cultura. Governo Federal, Brasil: União e Reconstrução.
Múltiplos olhares sobre Otelo – A presença multifacetada de Grande Otelo vai da chanchada à sátira política, do drama à comédia popular, sempre com uma atuação carregada de inteligência cênica. Destaques da programação são os filmes “Carnaval Atlântida” (1952), “Matar ou Correr (1954), “Rio, Zona Norte” (1957), “Macunaíma” (1969), “Lúcio Flávio, o passageiro da agonia” (1976), entre outros. Incluindo mais de 30 filmes estrelados pelo ator, a curadoria da mostra reúne ainda documentários que lançam luz sobre a vida e a obra de Grande Otelo, muitas vezes através da experimentação.
Dois dos filmes da programação, os curtas-metragens “Tudo que é apertado rasga” (2019), e “Não vim no mundo pra ser pedra” (2021), foram dirigidos pelo próprio curador, Fabio Rodrigues, que destaca o quanto sua relação com Otelo – tanto na pesquisa acadêmica quanto na realização cinematográfica – impactou na seleção dos filmes que compõem a mostra. “Somam-se muitos anos na minha pesquisa, na graduação, depois no mestrado, e agora no doutorado, quando ela ganha uma nova inflexão. Ela começou em 2017, também com uma mostra de cinema, e depois eu fiz o primeiro filme. Esse estudo então orienta a curadoria da mostra ‘Intérprete do Brasil’, com a revisita aos filmes – o ‘Matar ou Correr’, por exemplo – e o encontro com títulos muito raros – caso do ‘Exu-piá: coração de Macunaíma’ e do ‘A Força de Xangô’. A mostra reúne esses diferentes estágios com obras que foram me atravessando ao longo das etapas, e eu considero que ela faz jus à complexidade do Grande Otelo, introduzindo um artista muito plural – em termos de regime de atuação, quantidade de filmes e presença cênica – a uma nova geração, com momentos de conversa, formação e discussão, em um esforço de apresentá-lo de forma digna, contraditória e multifacetada. Tem também o ponto decisivo de realizar a mostra em 2025, celebrando os 110 anos do Otelo, no estado em que ele nasceu, com uma robusta retrospectiva em torno desse ator em um cinema público como o Cine Humberto Mauro. Sinto que é como se o próprio estado de Minas Gerais estivesse homenageando um de seus filhos mais prodigiosos”, ressalta o curador.
Destacando o caráter formativo e reflexivo da programação, a mostra reúne diversos pesquisadores, curadores, críticos e pensadores em atividades que procuram trazer um outro olhar sobre Grande Otelo: Diego Souza, Ewerton Belico, Fabio Rodrigues Filho, Kariny Martins, Leda Maria Martins, Luis Felipe Kojima Hirano e Tatiana Carvalho Costa vão comentar sessões de filmes emblemáticos na trajetória do artista; já os três cursos que acontecem ao longo da mostra serão ministrados por Deise de Brito, Fabio Rodrigues Filho e Luis Felipe Kojima Hirano, e tratam tanto da presença cênica de Grande Otelo enquanto intérprete quanto da história do cinema brasileiro à luz de atrizes e atores negros representativos.
Por sua vez, a presença de artistas como Maurício Tizumba – que conviveu de perto com Grande Otelo e já deu vida a ele no teatro e no cinema – e atores da cena contemporânea – que participam de uma mesa de debate – amplia o alcance da mostra, promovendo encontros intergeracionais e multiartísticos em torno da figura de Otelo, como salienta a diretora artística da mostra, Layla Braz. “A mostra ‘Intérprete do Brasil’ propõe um mergulho na obra e na trajetória de um dos artistas mais completos e fundamentais da história cinematográfica do Brasil. Com uma filmografia extensa e multifacetada, Grande Otelo marcou gerações com seu talento como ator, cantor, cronista e pensador da cultura brasileira. Rever seus filmes hoje é também revisitar os modos como o cinema representou – e ainda representa – questões de raça, classe, gênero. Mais do que uma homenagem, a mostra é um convite à reflexão crítica e ao reposicionamento histórico de um artista negro que atravessou linguagens e resistiu a apagamentos. As atividades formativas ganham protagonismo nesta proposta: sessões comentadas, mesas de debate, cursos, o estudo de caso, entre outras, ampliam a experiência do público, articulando memória, pensamento e celebração. Assim como Otelo transitou entre o popular e o erudito, o teatro e o cinema, o drama e o humor, a mostra aposta na pluralidade como caminho para pensar sua relevância. Revisitar Otelo é pensar o Brasil — e, sobretudo, é afirmar a centralidade da arte negra na formação da cultura nacional”, exalta a diretora.
CINE HUMBERTO MAURO – Um dos mais tradicionais cinemas de Belo Horizonte, foi inaugurado em 1978. Seu nome homenageia um dos pioneiros do cinema brasileiro, o mineiro Humberto Mauro (1897-1983), grande realizador cinematográfico. Com 129 lugares, possui equipamentos de som Dolby Digital e para exibição de filmes em 3D e 4K. Nestes mais de 45 anos de existência, a Fundação Clóvis Salgado tem investido na consolidação do espaço como um local de formação de novos públicos a partir de programação diversificada, bem como através da criação de mecanismos de estímulo à produção audiovisual, com a realização do tradicional FestCurtasBH – Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, e o Prêmio Estímulo ao Curta-Metragem de Baixo Orçamento. O Cine Humberto Mauro também é um importante difusor do conhecimento ao promover cursos, seminários, debates e palestras. Sessões permanentes e comentadas também têm espaço cativo a partir das mostras História Permanente do Cinema, Cinema e Psicanálise, Curta no Almoço, entre outros. Todas as atividades do Cine Humberto Mauro são gratuitas.
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO – Com a missão de fomentar a criação, formação, produção e difusão da arte e da cultura no estado, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) é vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult). Artes visuais, cinema, dança, música erudita e popular, ópera e teatro constituem alguns dos campos onde se desenvolvem as inúmeras atividades oferecidas aos visitantes do Palácio das Artes, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – e Serraria Souza Pinto, espaços geridos pela FCS. A Instituição é responsável também pela gestão dos corpos artísticos – Cia de Dança Palácio das Artes, Coral Lírico de Minas Gerais e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais –, do Cine Humberto Mauro, das Galerias de Arte e do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). A Fundação Clóvis Salgado é responsável, ainda, pela gestão do Circuito Liberdade, do qual fazem parte o Palácio das Artes e a CâmeraSete, entre outros diversos equipamentos. Em 2021, quando celebrou 50 anos, a FCS ampliou sua atuação em plataformas virtuais, disponibilizando sua programação para público amplo e variado. O conjunto dessas atividades fortalece seu caráter público, sendo um espaço de todos e para todos.
MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS – O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) é uma instituição responsável pela defesa dos direitos dos cidadãos e dos interesses da sociedade. Sua função é zelar pela correta aplicação da lei, pela ordem jurídica e pela democracia. Cabe a ele lutar contra as desigualdades, garantindo uma vida digna a todos os cidadãos. Com o objetivo de combater o racismo, o MPMG lançou, em 2023, o programa “Sobre Tons”, por meio da Coordenadoria de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação (Ccrad) e da Assessoria de Comunicação Integrada (Asscom). No ano de seu lançamento, o programa teve como ação principal o letramento racial de seu público interno, com a divulgação periódica de conteúdo informativo. A partir de 2024, expandiu seu trabalho para toda a sociedade, por meio de parcerias, com sessões de cinema comentadas, veiculação de vídeos em estádios de futebol e nas redes sociais, criação de um podcast, promoção de atividades culturais, entre outras ações. Em dezembro de 2024, deu origem, juntamente à Educafro Minas e à Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, ao Projeto Tenório, que concede bolsas integrais para pessoas negras em curso preparatório para ingresso na carreira de promotor de Justiça. Também no final de 2024, firmou parceria com a Fundação Clóvis Salgado, para a multiplicação de ações culturais de enfrentamento ao racismo.
Texto: Fundação Clóvis Salgado