Mostra promove uma homenagem à tradição do congado em Minas Gerais, contando com mais de dez obras da série “Catopês”, criada pela artista nascida em Montes Claros
Exposição “A valorização e o resgate de nossa cultura”
Data: Abertura no dia 17/7 (quarta-feira), às 18h
Período expositivo de 18/7 (quinta-feira) a 25/8 (domingo)
Horários: De quarta a sexta-feira, de 12h às 17h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h
Local: Palácio da Liberdade – Praça da Liberdade, s/nº, bairro Funcionários, Belo Horizonte
Classificação indicativa: Livre para todos os públicos
Entrada gratuita
Informações para o público: (31) 3236-7400
O nome Yara Tupynambá se tornou, ao longo de 90 anos de idade e sete décadas de carreira, sinônimo da excelência de Minas Gerais nas artes plásticas produzidas no Brasil. Natural de Montes Claros, a pintora, gravadora, desenhista, muralista e professora já expôs em diversas cidades do país e no exterior. Agora, uma parte de seu trabalho poderá ser vista no Palácio da Liberdade, também um símbolo do estado, em diálogo com o programa “Afromineiridades”, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais. A exposição “A valorização e o resgate de nossa cultura”, com curadoria da Fundação Clóvis Salgado, promove uma homenagem à tradição do congado em Minas Gerais, contando com mais de dez obras da série “Catopês”, feita pela artista com base na tradição de sua cidade-natal. Os “catopês” homenageiam os negros na formação do povo brasileiro, recriando e revivendo a memória e o imaginário congadeiro. A mostra “A valorização e o resgate de nossa cultura” abre no dia 17/7 (quarta-feira), às 18h, e poderá ser visitada entre os dias 18/7 (quinta-feira) e 25/8 (domingo), gratuitamente. A classificação é livre, e o Palácio da Liberdade está aberto à visitação de quarta a sexta-feira, de 12h às 17h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h
Nascida em 1932, Yara Tupynambá iniciou os estudos de arte com o pioneiro Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), em 1950, em Belo Horizonte. A artista é conhecida mundialmente e recebeu inúmeros prêmios, além de contar com mais de 90 painéis e murais espalhados por numerosas cidades brasileiras e trabalhos expostos em capitais internacionais. Aluna, professora e diretora da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Yara paralelamente se dedicou à gravura, especialmente sobre madeira. Seus murais retratam eventos históricos de Minas e passagens religiosas. Já nas telas a óleo, as pinturas trazem cavalhadas, violeiros e congados, temas referentes à sua adolescência e às andanças pelo interior de Minas. Este é o forte elo entre a mostra e o programa “Afromineiridades”, cuja edição de 2024 será inaugurada em agosto. Os congados mineiros surgiram no cenário de escravidão no Brasil como o espaço da festa, onde os escravizados poderiam congregar e revitalizar seus valores culturais, mostrando seu desejo de liberdade. Apesar da presença de grupos esparsos no Brasil, é na região Sudeste que se concentra o maior número de congados, especialmente em Minas Gerais. A exposição “A valorização e o resgate de nossa cultura” é também uma das primeiras entregas do “Projeto Profecia”, que norteia as ações da FCS no segundo semestre de 2024 e inclui uma programação ainda maior: as óperas “Devoção” e “Nabucco”, a exposição “Pontos de fé”, de 35 artesãos do coletivo “Mãos que Bordam”, o desfile “Moda no Jardim Sensorial”, e, no fechamento do ano, o “Natal da Mineiridade”.
O Ministério da Cultura, o Governo de Minas Gerais e a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado, apresentam a exposição “A valorização e o resgate de nossa cultura”. As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm Patrocínio Master da Cemig e Instituto Cultural Vale, Patrocínio Prime do Instituto Unimed-BH e da ArcelorMittal, Patrocínio da Vivo e correalização da APPA – Cultura e Patrimônio. O Palácio da Liberdade está aberto à visitação por meio do projeto “Descubra o Palácio – Projeto de Museografia e Visitação Pública ao Palácio da Liberdade”, financiado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e também por meio de Termo de Parceria com a APPA – Cultura e Patrimônio. O patrocínio é da Copasa. Governo Federal, Brasil. União e Reconstrução.
Identidade e resistência – Na memória dos congadeiros dos mais diversos grupos do estado, a tradição do congado chegou a Minas Gerais através de Chico Rei, um monarca africano que foi trazido para o Brasil no século XVIII. Em Vila Rica (atual Ouro Preto), onde viveu, ele conseguiu comprar sua alforria e, através da exploração de uma mina já desativada, acabou encontrando ouro, enriquecendo e comprando a liberdade dos demais negros mantidos cativos na região. Em 1747, o rei-escravizado, grande devoto de Nossa Senhora do Rosário, organizou a primeira festa em homenagem à santa que o ajudou a concretizar o seu sonho de liberdade, com riquíssimo cortejo e farta mesa. A forma de agradecimento se disseminou entre os escravizados e acompanha até hoje as comunidades afro-brasileiras.
O congado passou a ser uma das mais fortes expressões das manifestações culturais e religiosas do povo negro e, em muitas localidades, surgiram grupos autônomos, totalmente desvinculados das irmandades leigas, mas vinculados à fé em Nossa Senhora do Rosário e a outros santos do panteão católico-cristão associados aos auxílios recebidos pelos antepassados durante o período de escravidão. Como expressão litúrgica celebrativa travestida de catolicismo, o congado possibilitava a recriação do universo simbólico desses povos, através da expressão corporal, dos cantos e danças acompanhados pelos sons de instrumentos de origem africana como tambores, maracás e caxixis, fabricados por eles mesmos.
Em reverência ao congado mineiro, como grupo social relevante na história política, social e cultural de Minas, a exposição no Palácio da Liberdade vem consolidar a valorização da memória artística e cultural e dos saberes populares do estado. Segundo Uiara Azevedo, Gerente de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, a iniciativa reforça a necessidade de preservação do patrimônio material e imaterial que constitui a identidade cultural e formação da população mineira. “Desde que o Palácio da Liberdade foi aberto à visitação do público e passou a ser também um espaço expositivo, tem sido uma preocupação da Fundação Clóvis Salgado promover um diálogo desse edifício histórico com as manifestações artístico-culturais do estado, principalmente aquelas oriundas da cultura popular, tanto no que diz respeito aos autores quanto às temáticas. É um modo sobretudo de mostrar para as pessoas que um prédio por muito tempo visto como inacessível pode abrigar e dar visibilidade a fazeres artísticos múltiplos, que dialogam com as vivências e experiências das tradições e crenças locais. Isso, aliado à honra de poder receber as obras de uma grande artista como Yara Tupynambá, um nome incontornável da arte brasileira, faz com que essa exposição seja um feliz encontro que celebra os múltiplos patrimônios culturais de Minas Gerais”, salienta Uiara.
O berço das tradições e dos talentos – O congado envolve um ritual composto por oito irmãos: Candombe, Moçambique, Congo, Caboclo, Marujo, os Catopês, Vilão e os Cavaleiros de Jorge. Cada um desses grupos contém elementos e ritualidades próprias. O Norte de Minas Gerais é palco de um dos mais antigos movimentos socioculturais do estado, com grupos populares do congado manifestando ancestralidade e devotando sua fé, e cujos saberes e fazeres populares, a exemplo da cidade de Montes Claros, remontam ao início do século XIX.
No caso de Yara Tupynambá, os trabalhos sobre o congado criados pela artista, e que estarão na exposição, são dos anos de 1976 a 1978. São obras em telas e em papel, elaboradas a partir de diversas técnicas. “Ninguém registrou com tanta propriedade e amor estas manifestações do Norte de Minas como Yara Tupynambá, pois ela as vivenciou desde a tenra infância, o que também coloca a artista como patrimônio imaterial da cultura popular nas artes plásticas”, ressalta o Presidente do Instituto & Memorial Yara Tupynambá, Geraldo Porfírio da Silva, genro da artista que a acompanha há mais de 50 anos. “Como Yara ilustrou muito bem, nossos Catopês, Marujos e Caboclinhos representam a ancestralidade e o sincretismo religioso no norte de Minas. Yara sempre manifestou o anseio em ressaltar a tradição de nosso povo e a ela devemos importantes registros de resgate de nossa cultura”, acrescenta.
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO – Com a missão de fomentar a criação, formação, produção e difusão da arte e da cultura no Estado, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) é vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult). Artes visuais, cinema, dança, música erudita e popular, ópera e teatro, constituem alguns dos campos onde se desenvolvem as inúmeras atividades oferecidas aos visitantes do Palácio das Artes, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – e Serraria Souza Pinto, espaços geridos pela FCS. A Instituição é responsável também pela gestão dos corpos artísticos – Cia de Dança Palácio das Artes, Coral Lírico de Minas Gerais e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais –, do Cine Humberto Mauro, das Galerias de Arte e do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). A Fundação Clóvis Salgado também é responsável pela gestão do Circuito Liberdade. Em 2021, quando celebrou 50 anos, a FCS ampliou sua atuação em plataformas virtuais, disponibilizando sua programação para público amplo e variado. O conjunto dessas atividades fortalece seu caráter público, sendo um espaço de todos e para todos.
Texto: Fundação Clóvis Salgado