A SEMANA SANTA EM MINAS GERAIS: PLURALIDADE, FÉ E TRADIÇÃO

Devoção, simbolismo e muita emoção marcam as celebrações no Estado de Minas Gerais

Conhecida nacional e internacionalmente, a Semana Santa em Minas Gerais é vivida essencialmente nas cidades históricas mineiras, com celebrações e manifestações seculares, que datam de até trezentos anos de tradição. Em Minas, a Semana Santa é o segundo melhor feriado no Estado, perdendo apenas para o carnaval.

Créditos: Poly Acerbi

Em Ouro Preto, grande parte das pousadas recebem suas reservas com até dez anos de antecedência, quando turistas do mundo inteiro vêm conhecer uma das mais belas celebrações religiosas de Minas e do Brasil. Mantendo a tradição de mais de duzentos anos, toda a população ouropretana se mobiliza seguindo fielmente o costume que promove a alternância na organização das celebrações na cidade, dividida entre a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, nos anos ímpares, e a Paróquia Nossa Senhora do Pilar, nos anos pares. 

Vale lembrar que procissões, ofícios e celebrações se sucedem nos diversos templos espalhados em sua paisagem setecentista e, mesmo antes das cerimônias principais da Semana Maior, que acontece quarta, quinta e sexta-feira santas, sábado e domingo de Páscoa, a cidade já respira religiosidade.

Créditos: Poly Acerbi

A preparação para a Semana Santa começa com o Setenário das Dores, um ritual litúrgico celebrado em latim, com cânticos compostos nos séculos XVIII e XIX. A devoção se instalou em Ouro Preto com a chegada da Ordem Terceira dos Servos de Maria, na segunda metade do século XVIII. No último dia, uma procissão percorre as ruas levando a imagem da Mater Dolorosa da Igreja das Dores para a Igreja das Mercês de Cima, onde é recebida pelos fiéis com o canto do “Inflammatus”.

Em 2023, a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição celebrará, com mais fervor ainda os atos litúrgicos e paralitúrgicos, motivada pela reabertura da sua Matriz, o Santuário da Imaculada Conceição, que ficou fechado durante quase dez anos para a restauração dos seus elementos estruturais e artísticos. 

Será um momento de grande emoção para os fiéis o reencontro com algumas atividades religiosas da Semana Santa nesse templo tricentenário, que abriga os restos mortais de Aleijadinho, o grande mestre do barroco.

 Na Estrada Real

Nas cidades irmãs de Diamantina, Serro e Conceição do Mato Dentro, os ritos e celebração também são seculares. Como patrimônio eclesiástico, a Semana Santa é um espaço privilegiado de memória histórica e de identidade da comunidade diamantinense, tradição viva da fé ao longo dos séculos. 

São várias procissões, ritos e manifestações simbólicas, ligadas também à religiosidade popular, que requerem saberes de produção de ornamentos, estruturas, vestimentas, músicas e outras artes diversas, conectando dimensões materiais e simbólicas. A fé, o respeito e o encantamento da população local e dos visitantes durante este período são relatados desde o século XVIII.

Créditos: Poly Acerbi

A participação dos fiéis proporcionam momentos emocionantes, como os vivenciados durante a encenação da Guarda Romana, na Via Sacra, na Procissão do Enterro e na confecção dos Tapetes Devocionais para a Procissão do Santíssimo Sacramento no Domingo da Ressurreição. Entre esses belíssimos rituais e manifestações, destacam-se os tapetes devocionais que possuem origem portuguesa. No Brasil, possuem cores e contornos do barroco.  

Diamantina foi influenciada por esta arte ainda no século XVII, juntamente com a prática de enfeitar janelas e sacadas com colchas coloridas e flores nas ruas onde o Santíssimo Sacramento percorre.

No Serro, as celebrações e eventos são intensamente vividos nos cinco distritos do município, com uma programação bem peculiar. Além das procissões na sede, os distritos de Milho Verde, São Gonçalo do Rio Abaixo, Pedro Lessa, Três Barras, Deputado Augusto Clementino – Mato Grosso, apresentam ritos que remetem também à tradição africana, pois todo o município tem forte presença de comunidades quilombolas, que unem suas manifestações culturais às tradições católicas, compondo o cenário de muita beleza, fé e devoção.

Em Conceição do Mato Dentro, a apresentação na Sexta-Feira Santa das Sete Dores de Nossa Senhora causa grande comoção entre devotos e turistas. A encenação é realizada pela Cia Maria Tiana, que faz uma adaptação do “Setenário das Dores de Nossa Senhora”, transformando em uma peça teatral épica, que aborda também os últimos passos da Paixão de Cristo. O evento acontece na sexta-feira da Paixão, às 21h, no Adro da Igreja de Santana.

Sabará, Caeté e Santa Bárbara

Em Sabará a Semana Santa é um verdadeiro espetáculo de fé, com celebrações religiosas seculares. Os eventos contam com a participação efetiva de fiéis, moradores, colaboradores e turistas. O Setenário das Dores relembra as principais dores que Maria sofreu com a paixão, morte e sepultamento de Jesus e acontece na Igreja São Francisco. Celebrando a “entrada triunfal” de Jesus em Jerusalém, exatamente uma semana antes de sua ressurreição, a comunidade se reúne no Domingo de Ramos. Na madrugada da Sexta-Feira da Paixão, centenas de fiéis pagam promessas subindo as ladeiras do Morro da Cruz na Via Sacra da Penitência.

Créditos: Poly Acerbi

A cidade de Caeté é mantenedora das mais antigas tradições das Minas do Ouro, com as centenárias solenidades da Semana Santa. Cidade sede da Padroeira de Minas Gerais, o santuário de Nossa Senhora da Piedade, Caeté é tomada pelo cheiro de manjericão que invade as ruas, praças e igrejas durante as missas e cortejos. Pelas ruas, realçam a prataria sacra que é lustrada para acompanhar as mais belas imagens durante as procissões, que reúnem milhares de fiéis e turistas pelas ruas do Centro Histórico da tricentenária cidade. 

Outra tradição que marca a Semana Santa de Caeté são as toalhas roxas que ficam expostas sobre os peitorais das janelas. Ponto marcante das celebrações é quando o soar dos sinos de bronze se calam e dão lugar ao som das matracas e das tradicionais bandas de música durante os cortejos. O calendário das missas, procissões e encenação seguem as tradições católicas durante toda a Semana Santa.

Durante três dias, o Centro Histórico de Santa Bárbara integra o cenário onde as cenas do espetáculo são realizadas, com ápice para a cena da crucificação, que é realizada em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Em 2012, “Os Passos da Agonia” foram reconhecidos como Bem Imaterial do Patrimônio Cultural de Santa Bárbara.

Texto: Petrônio Souza

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