Atividades educativas renovam o compromisso com a luta e a memória da primeira comunidade quilombola registrada com esse título em MG
“Hoje, celebramos uma década desde que nossa comunidade foi reconhecida como patrimônio imaterial do município de Contagem, Minas Gerais. Esse reconhecimento é uma valorização de toda uma história de luta travada pelos nossos ancestrais e que continuamos trilhando até hoje, demarcando a importância de valorizar nossa cultura, cuidar do nosso patrimônio e abrir espaço para que outros nos conheçam.” Foi com essas palavras que Maria Goreth Heredia, Rainha Estrela da Guia e Liderança da Comunidade dos Arturos, descreveu a importância do seminário comemorativo “Arturos: 10 anos de Reconhecimento de um Patrimônio Quilombola que Resiste”, uma realização da Comunidade dos Arturos, da APPA – Cultura & Patrimônio, por meio do Programa Educativo do Centro do Patrimônio Cultural CEMIG e Pinacoteca CEMIG Minas Gerais, do IEPHA-MG e da Prefeitura Municipal de Contagem.
O evento aconteceu nos dias 22 e 23 de novembro e celebrou uma década de reconhecimento como patrimônio cultural imaterial de uma das mais emblemáticas comunidades quilombolas do Brasil, localizada em Contagem/MG. Além disso, ocorreu a solenidade de posse dos novos membros do Comitê Gestor da Salvaguarda da Comunidade dos Arturos, um marco que reafirma o compromisso das instituições públicas e civis com a sua preservação.
“Os Arturos abriram caminhos de política de patrimônio imaterial para várias outras comunidades tradicionais em Minas e no Brasil. Esse ano a gente efetivou o comitê, que reúne diversos órgãos e parceiros, como o INCRA, a Secretaria Municipal de Cultura e de Habitação, universidades como a PUC, a UFMG, além do IEPHA, para juntos formular e articular ações de salvaguarda que vão promover a continuidade das práticas culturais da comunidade, a segurança alimentar, a segurança territorial e diversas outras pautas que estão dentro da política pública para proteção do patrimônio”, destacou Nicole Batista, Gerente de Patrimônio Cultural Imaterial do IEPHA-MG.
O Quilombo dos Arturos, formado pelos descendentes de Arthur Camilo Silvério e Carmelinda Maria da Silva, carrega mais de 130 anos de história. Suas tradições, como a Folia de Reis, o Congado e o Grupo Cultural Filhos de Zambi, ressoam como símbolos de fé e resistência dos povos afromineiros. “A comunidade dos Arturos está em Contagem antes mesmo da emancipação política da cidade. Isso mostra sua importância histórica para a construção da cidade. Portanto, a Prefeitura trabalha com vários convênios com a comunidade, tanto do ICMS cultural, quanto dos editais, quanto em apoios em festividades com ônibus, banheiros químicos, para que a cultura afro-brasileira produzida aqui tenha sua identidade preservada”, enfatizou Gabrielle Vaz, Diretora de Memória e Patrimônio da Prefeitura de Contagem.
A programação do seminário incluiu atividades que uniram gerações distintas em torno da preservação da memória coletiva, como uma oficina de mapas de percepção para as crianças e uma roda de conversa mediada por João Pio, membro da comunidade. “Para nós, é uma alegria imensa apoiar esse evento. Ele fortalece a história do patrimônio imaterial e reforça o papel educativo do Centro do Patrimônio Cultural Cemig e Pinacoteca Cemig Minas Gerais. É um seminário feito pela comunidade, para a comunidade e para a história do nosso estado”, afirmou Lídia Mendes, Coordenadora do Programa Educativo do Centro do Patrimônio Cultural CEMIG e Pinacoteca CEMIG Minas Gerais.
Celebrar os Arturos é revisitar um modelo de resistência e preservação. É reconhecer que cada canto, cada tambor e cada rito é um eco de luta e ancestralidade que atravessa o tempo, mostrando que o patrimônio é, acima de tudo, vivo, e assim tem que permanecer. Mais uma vez, nas palavras de Maria Goreth Heredia, “a comunidade, através dessa titularização e reconhecimento, se reafirma como um modelo de modo de viver e um modelo que reflete toda a luta, toda a resistência e toda a fé do povo negro brasileiro”.
Texto: Matheus Marinho