A sede da APPA foi palco da palestra “Interseccionalidade e Justiça Social: O Papel das Pessoas Aliadas na Luta por Reparação e Consciência Crítica”, realizada pelo Comitê de Diversidade, Equidade e Inclusão.
Na última quinta-feira (28/11), a sede da APPA foi palco da palestra “Interseccionalidade e Justiça Social: O Papel das Pessoas Aliadas na Luta por Reparação e Consciência Crítica”, realizada pelo Comitê de Diversidade, Equidade e Inclusão. O evento reuniu os colaboradores e foi transmitido também de forma online, garantindo ampla participação em um diálogo profundo sobre desigualdade histórica, apropriação cultural e o papel ativo de cada um na promoção da justiça social.
O encontro foi aberto pela coordenadora do Comitê, Nayara Leite, que destacou que a ação faz parte de um conjunto de diversas iniciativas do Comitê, voltadas para o aprofundamento da reflexão sobre equidade, diversidade e inclusão.
Nayara enfatizou sobre a importância do evento como um espaço estratégico para a construção de diálogos: ‘um momento oportuno para encarar o tema com abertura, sanar dúvidas e se comprometer com um processo de aprendizagem contínua sobre como cada indivíduo pode atuar como aliado na causa antirracista’.
Em seguida, a palestrante convidada, a artista anticolonial Mariana Nolaço, iniciou o debate com uma abordagem crítica sobre a história colonial do Brasil e os impactos duradouros da cultura da branquitude. “A dificuldade enfrentada pelas pessoas negras ao falar sobre apropriação cultural, por exemplo, é uma forma de descredibilização que desestimula a luta antirracista”, afirmou. Ela destacou que “os desafios diários, em termos de reconhecimento e oportunidades, enfrentados pelas pessoas negras e indígenas, contribuem para a formação das desigualdades raciais e impactam negativamente na saúde mental desses grupos”, apontando para a urgência de mudanças.
Interseccionalidade
Neste sentido, Mariana abordou o conceito de interseccionalidade, e explicou que, para combater a opressão, é fundamental considerar os múltiplos fatores que compõem a identidade de uma pessoa, como raça, classe, gênero e território. “Sem levar a interseccionalidade em conta, não podemos implementar ações concretas, pois ela evidencia as barreiras históricas enfrentadas por grupos marginalizados”, alertou.
A artista completou indicando, como práticas aliadas, o fortalecimento do diálogo, o apoio à cultura negra e indígena, o investimento em educação antirracista e a promoção de mais representatividade, além de chamar a atenção para a necessidade de estruturas institucionais que garantem reparações reais, como capacitação e crescimento profissional para esses grupos.
Conscientização no Terceiro Setor
Alexandre Teixeira, analista jurídico da APPA, professor da rede pública de ensino, membro do Comitê de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) e da Comissão de Promoção da Igualdade Social da OAB, destacou que o Terceiro Setor, por transitar entre o público e o privado, tem um papel estratégico na promoção da pluralidade e da inclusão. “Enquanto organização que atua em prol do interesse público, é essencial que nossas ações de diversidade beneficiem tanto os colaboradores internos quanto a sociedade como um todo, ampliando o impacto das discussões étnico-raciais”, declarou.
Ele reforça que ações institucionais, como a palestra, são passos fundamentais para fomentar debates cada vez mais urgentes sobre relações étnico-raciais no Terceiro Setor, especialmente sob a perspectiva de aliados. E frisa a necessidade de um compromisso antirracista que vá além do ambiente corporativo: “Cada um de nós, seja como profissional, gestor ou cidadão, deve adotar práticas que transformem nossas organizações e a realidade ao nosso redor, fomentando uma cultura mais justa e igualitária, alinhada à realidade da maioria dos brasileiros.”
Raízes na ancestralidade
Durante o evento, os participantes desfrutaram de um coffee break especial, um momento de acolhimento preparado pela Mestra Kelma Zenaide, da Kitutu Cozinha Afro-Brasieira, que trouxe à mesa a riqueza da gastronomia quilombola e proporcionou uma imersão nos sabores da culinária ancestral.
Kelma compartilhou memórias emocionantes sobre seu avô, de quem herdou receitas e ensinamentos. Em uma de suas falas, ela lembrou carinhosamente do prato preferido feito por ele: um coração costurado com linha de sapateiro, que ela descreveu como uma metáfora para “costurar corações”, conectando sabores, memórias afetivas e raízes.
A proposta, além de ser uma experiência sensorial, reforça a valorização do trabalho da mulher preta e da culinária ancestral como um ato de resistência e preservação cultural.
Um compromisso contínuo
O evento foi encerrado por um debate com os participantes, resultando em uma rica troca de ideias sobre o papel de cada um na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Mariana Nolaço reforçou que ações como esta não devem se limitar à campanha do Novembro Negro, mas sim se renovar diariamente, e que a estrutura do Comitê da APPA é um exemplo de como garantir aprendizado e troca constante.
Com iniciativas como esta, a APPA reafirma seu compromisso em fomentar o conhecimento e o diálogo crítico sobre temas essenciais para uma transformação efetiva que contribua para a construção de uma sociedade diversa, igualitária e inclusiva.
Texto: Shênia Carvalho