A data foi criada em 2022, como forma de valorizar e proteger uma das expressões culturais e artística mais originais do Nordeste brasileiro
O Maracatu é uma manifestação do folclore genuinamente brasileiro, que envolve dança, música e vestimentas. Ele surgiu no Brasil Colônia, em Pernambuco, no início do século XVIII, da fusão entre as culturas africana, portuguesa e indígena.
A religiosidade está na origem do Maracatu, quando negros incorporaram elementos do cristianismo europeu para disfarçar seus cultos sagrados, levando suas tradições e ritos africanos em forma de música e dança para as ruas. O Maracatu incorporou também à sua formação instrumentos musicais dos indígenas e passos de suas danças.
Os primeiros registros do Maracatu em solo brasileiro dão conta do ano de 1711. Suas origens são incertas, mas relacionam-se com o candomblé e com a coroação dos reis do Congo.
Há dois tipos de maracatu: o Maracatu Nação ou Baque Virado e o Maracatu Rural ou Baque Solto. O Maracatu Nação é feito em cortejo, onde são conduzidas bonecas negras feitas de madeira e ricamente vestidas, as chamadas calungas. A composição do cortejo é formada entre 30 e 50 componentes e segue sempre uma ordem. O Maracatu Nação é típico da zona metropolitana de Recife.
Já o Maracatu Rural ou Baque Solto é típico de Nazaré da Mata, município localizado na Zona da Mata pernambucana. Sua origem é posterior à do Maracatu Nação, por volta do século XIX. Seus participantes são da zona rural e em seu cortejo representa a cultura e costumes dos trabalhadores rurais.
Maracatu mineiro
Em Minas Gerais os grupos que trabalham o Maracatu destacam que, na verdade, eles participam de coletivos percussivos, pois o Maracatu em sua origem tem o elemento religioso, que está intrinsecamente ligado às comunidades do Estado de Pernambuco.
Um desses coletivos é o Mar de Morro – @coletivomardemorro, um grupo de artistas de Belo Horizonte e região Metropolitana que tem como maior referência a Nação de Maracatu Estrela Brilhante, de Recife, com quem mantém uma relação umbilical, desde sua criação. Fruto dessa ligação é o intercâmbio entre integrantes do grupo de Recife, que sempre vêm a Minas para a formação de novos batuqueiros e dançarinos, além do aperfeiçoamento dos que já integram o Mar de Morro, que trabalha o Maracatu de Baque Virado. Além disso, o coletivo mineiro participa anualmente da produção do desfile de carnaval do Grupo em Pernambuco.
Outro grupo que trabalha a instrumentação do Maracatu é o Humaitá – @humaitacultura, que cria ritmos autorais buscando novas linguagens musicais, tendo o Maracatu como referência. O grupo trabalha também o congado, o afoxé, o bumba-meu-boi, entre cirandas e outros ritmos. Criado em 2017, o Humaitá participou do carnaval de Belo Horizonte pela primeira vez no ano de 2019. Regularmente o Grupo traz mestres do Maracatu pernambucano para oficinas e apresentações na capital mineira, além de promover o aprimoramento do coletivo. Neste ano, pela primeira vez, o Grupo Humaitá participou dos festejos do São João de Belo Horizonte.
As mulheres também se destacam no Maracatu mineiro, como as integrantes do Baque Mulher Belo Horizonte – @baquemulherbh e o Baque de Mina – @baquedemina. Fundado em 2013, o Baque de Mina inovou na capital mineira ao apresentar uma bateria exclusivamente feminina, tocando o Maracatu de Baque Virado.
O grupo apresenta em seu repertório músicas autorais, que reverenciam a cultura popular, além da forte temática das causas feministas. O Grupo lembra que, até a sua criação, os coletivos de percussão eram essencialmente masculinos em Belo Horizonte. O Baque de Mina ministra oficinas de Maracatu e busca, por meio da música, amplificar a voz feminina na sociedade e na luta pela equidade entre os gêneros.
Outro grupo de destaque da cidade é o Baque Mulher Belo Horizonte. Criado em 2019, o Baque Mulher é uma extensão do Movimento de Empoderamento Feminino Baque Mulher, criado em Pernambuco pela mestra Joana Cavalcante, no ano de 2008. O grupo tem um forte engajamento social: as integrantes promovem reflexões sobre os tipos de violência contra a mulher, a valorização das matriarcas nas tradições do Maracatu, o poder feminino e o legado das mulheres que iniciaram a luta por seus direitos.
Em Belo Horizonte o grupo promove encontros semanais abertos, no Parque Guilherme Lage, no Bairro São Paulo, que além do aprendizado percussivo realiza também rodas de conversa.
Um dos grupos pioneiros do Maracatu e que fez história na capital mineira foi o Trovão das Minas – @trovaodasminas. Fundado em 2000, o Trovão das Minas foi o primeiro grupo de percussão a trabalhar o Maracatu de Baque Virado no Estado, influenciando uma geração de instrumentistas que se aproximaram da cultura popular pernambucana. O Grupo funde os baques (ritmos) típicos da tradição do Maracatu com outros ritmos, como a ciranda, o coco, o congo mineiro, o baião, entre outros, criando um repertório rico, autoral e original.
O Trovão das Minas promove oficinas de Maracatu regulares durante todo o ano, divulgando o Maracatu em terras mineiras e mantendo um diálogo permanente com a cultura popular pernambucana.
Nos últimos anos, com a popularização e expansão do carnaval de rua de Belo Horizonte, o Maracatu vem se destacando e incorporando cada vez mais aos ritmos musicais e à cultura dos mineiros, bem ao estilo de como nasceu em Pernambuco, no século XVIII: inclusivo, acessível, propositivo e participativo.
Vale muito a pena conferir o som dessa galera engajada e que sabe muito bem o que quer!
Texto: Petrônio Souza